Conselho Nacional da Fenprof faz balanço

Mantém-se a luta <br>pela Escola Pública

Ao cabo de três dias de de­bate nas reu­niões dos seus ór­gãos, a Fen­prof fez um ba­lanço de final de ano e de le­gis­la­tura. Mário No­gueira afirmou a ne­ces­si­dade de «al­terar a po­lí­tica em curso» e que, para tal, há uma con­dição ab­so­lu­ta­mente ne­ces­sária: mudar de go­verno».

A Fen­prof mo­bi­lizou e vai mo­bi­lizar os pro­fes­sores para a luta

À reu­nião do Se­cre­ta­riado, a 8 e 9, se­guiu-se a do Con­selho Na­ci­onal da Fen­prof, a 10, com o pro­pó­sito anun­ciado de fazer um ba­lanço do ano lec­tivo – que é também de le­gis­la­tura –, bem como de re­a­lizar um de­bate sobre a forma de «com­pro­meter os par­tidos com vista ao fu­turo, no sen­tido de serem en­con­tradas so­lu­ções po­si­tivas para os pro­blemas exis­tentes». Igual­mente nesse dia re­a­lizou-se a con­fe­rência de im­prensa do se­cre­tário-geral da fe­de­ração sin­dical, Mário No­gueira.

Re­fe­rindo-se a di­versas ver­tentes das con­clu­sões do Con­selho Na­ci­onal, o di­ri­gente sin­dical afirmou que, em final de le­gis­la­tura, o Mi­nis­tério da Edu­cação (MEC) não tem le­gi­ti­mi­dade para impor me­didas que irão com­pro­meter o pró­ximo go­verno: a mu­ni­ci­pa­li­zação, a pri­va­ti­zação e a ins­ti­tu­ci­o­na­li­zação da obri­ga­to­ri­e­dade do exame da Cam­bridge – ne­gócio que pas­sará a custar ao Es­tado uma avul­tada verba e pas­sará a fazer parte do ca­len­dário na­ci­onal de exames.

Mário No­gueira afirmou que este foi o ano «cam­peão da con­fusão na aber­tura do ano lec­tivo, com grandes atrasos nas co­lo­ca­ções» e que «para este Go­verno valeu e vale tudo», sendo longa «a lista de im­po­si­ções, au­sência de ne­go­ci­ação e de re­curso à men­tira para fazer valer as suas op­ções po­lí­tico-ide­o­ló­gicas».

Luta in­tensa

Esta foi também «uma le­gis­la­tura de muita acção e ini­ci­a­tivas, de apre­sen­tação de pro­postas e de grande ac­ti­vi­dade ins­ti­tu­ci­onal», des­tacou o se­cre­tário-geral da Fen­prof, que se re­feriu às vá­rias pe­ti­ções feitas e en­tre­gues na As­sem­bleia da Re­pú­blica, bem como à muita «re­sis­tência exer­cida», cujos efeitos, em muitas si­tu­a­ções, «têm de ser re­le­vados como sig­ni­fi­ca­tivos». Por ini­ci­a­tiva da fe­de­ração sin­dical, os pro­fes­sores fi­zeram três se­manas de greve às ava­li­a­ções e exames, vá­rias con­cen­tra­ções, con­fe­rên­cias te­má­ticas e sec­to­riais; en­vol­veram-se numa forte luta em torno da PACC e da Cam­bridge; mo­bi­li­zaram-se na de­fesa do En­sino Ar­tís­tico, do En­sino Su­pe­rior e dos con­ser­va­tó­rios; e dis­seram «não» à mu­ni­ci­pa­li­zação.

Mu­ni­ci­pa­li­zação e pri­va­ti­zação

A este pro­pó­sito, Mário No­gueira afirmou que há câ­maras que já as­si­naram com o Go­verno os con­tratos da mu­ni­ci­pa­li­zação, com o «ne­gócio» en­vol­vido em grande se­cre­tismo, e des­tacou que os sin­di­catos da Fen­prof «vão con­ti­nuar a in­terpor pro­vi­dên­cias cau­te­lares em todos os casos, jus­ti­fi­cadas pelas grandes di­fi­cul­dades cri­adas ao fun­ci­o­na­mento das es­colas, a vi­o­lação de re­gime de con­trato de tra­balho em fun­ções pú­blicas, con­sequên­cias na qua­li­dade de en­sino, a in­tro­missão na au­to­nomia le­gal­mente con­sa­grada aos con­se­lhos ge­rais».

No que res­peita à pri­va­ti­zação, o di­ri­gente sin­dical disse que, apesar de a rede do Es­tado, obri­ga­tória, ter ca­pa­ci­dade de res­posta na maior parte dos casos, «o Go­verno viola a Cons­ti­tuição da Re­pú­blica (Art.º 75.º), fa­vo­re­cendo co­lé­gios e trans­fe­rindo ile­gi­ti­ma­mente turmas e alunos»: nos pró­ximos três anos os co­lé­gios re­ce­berão mais de 400 mi­lhões de euros, em fase de con­curso; em sete anos os con­tri­buintes de­sem­bol­saram mil mi­lhões de euros para os ope­ra­dores pri­vados.

Ataque à Edu­cação

O Con­selho Na­ci­onal da Fen­prof ana­lisou as con­sequên­cias da po­lí­tica do Go­verno na área da Edu­cação, tendo re­al­çado al­guns dados. Assim, nesta le­gis­la­tura ve­ri­ficou-se:

corte su­pe­rior a 3000 mi­lhões de euros na Edu­cação; re­dução de cerca de 40 000 pro­fes­sores nas es­colas; cons­ti­tuição de mais de 300 mega-agru­pa­mentos; al­te­ra­ções cur­ri­cu­lares que em­po­bre­ceram os cur­rí­culos; pro­li­fe­ração de exames, que sub­verteram uma pers­pec­tiva de es­cola que avalia os co­nhe­ci­mentos e os pro­cessos de for­mação; au­mento do nú­mero de alunos por turma; apli­cação da PACC, com o afas­ta­mento de mais de 5000 pro­fes­sores da pro­fissão; ins­ti­tu­ci­o­na­li­zação da re­qua­li­fi­cação apli­cada aos do­centes; im­po­sição de tra­balho gra­tuito de pro­fes­sores para servir in­te­resses pri­vados por via da par­ceria Es­tado-Cam­bridge; pro­blemas e atraso no fi­nan­ci­a­mento dos es­ta­be­le­ci­mentos de En­sino Ar­tís­tico es­pe­ci­a­li­zado; pro­cesso de mu­ni­ci­pa­li­zação da Edu­cação feito à margem do de­bate pú­blico; pri­va­ti­zação di­recta através da fi­xação do nú­mero de turmas nos co­lé­gios com con­trato de as­so­ci­ação até 2020; agra­va­mento dos re­qui­sitos para apo­sen­tação; ma­nu­tenção dos cortes e con­ge­la­mentos da car­reira; ine­xis­tência de me­didas para cor­rigir os erros com um pro­cesso de tran­sição entre car­reiras do En­sino Su­pe­rior, que pode lançar cen­tenas de do­centes no de­sem­prego ou numa maior pre­ca­ri­e­dade; as­fixia de cen­tros e uni­dades de in­ves­ti­gação; cortes muito avul­tados nos or­ça­mentos das ins­ti­tui­ções de En­sino Su­pe­rior pú­blicas; acen­tuada frac­tura no Su­pe­rior, entre uni­ver­si­tário e po­li­téc­nico.




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